E aí temos a Europa encurralada, deixada perante uma única saída para tentar resolver a crise das dívidas soberanas e salvar o euro: garantir de uma forma firme que é solidária pelos pagamentos dos compromissos dos países enrascados.Até aqui, tentaram-se outras vias. Ineficazes, como agora se pode concluir, mas que eram racionais.
A primeira foi o empréstimo a quem já não conseguia financiar-se nos mercados em condições praticáveis. A ajuda a que recorreram a Grécia, Irlanda e Portugal foi negociada a taxas de juro (na casa dos 5%) elevadas para os padrões pré-crise. Usura? Agiotagem? Não. Esses juros são muito mais baratos do que o mercado já exigia e há uma regra sagrada que não deve ser esquecida: não beneficiar o infractor, sob pena de ele continuar a sê-lo. E por muito que nos custe, os infractores foram os países que não quiseram ou não souberam cuidar das suas finanças e da sua competitividade (Portugal e a Grécia) ou regular os seus bancos (Irlanda).
Imagine, caro leitor, que Portugal e a Grécia sabiam que tinham eternamente dinheiro garantido a taxas de juro alemãs, independentemente dos défices orçamentais e das dívidas externas que fossem acumulando. Acha que se dispunham a mudar de vida e a fazer as reformas necessárias para quebrarem os ciclos viciosos em que se meteram? Realisticamente, não. Além disso, convém nunca esquecer que os euros da Alemanha, da Holanda ou da Áustria não nascem em árvores nesses países ricos. Eles são pagos aos seus Estados por contribuintes como nós que podem legitimamente estar indisponíveis para suportar indisciplinas alheias.
A primeira foi o empréstimo a quem já não conseguia financiar-se nos mercados em condições praticáveis. A ajuda a que recorreram a Grécia, Irlanda e Portugal foi negociada a taxas de juro (na casa dos 5%) elevadas para os padrões pré-crise. Usura? Agiotagem? Não. Esses juros são muito mais baratos do que o mercado já exigia e há uma regra sagrada que não deve ser esquecida: não beneficiar o infractor, sob pena de ele continuar a sê-lo. E por muito que nos custe, os infractores foram os países que não quiseram ou não souberam cuidar das suas finanças e da sua competitividade (Portugal e a Grécia) ou regular os seus bancos (Irlanda).
Imagine, caro leitor, que Portugal e a Grécia sabiam que tinham eternamente dinheiro garantido a taxas de juro alemãs, independentemente dos défices orçamentais e das dívidas externas que fossem acumulando. Acha que se dispunham a mudar de vida e a fazer as reformas necessárias para quebrarem os ciclos viciosos em que se meteram? Realisticamente, não. Além disso, convém nunca esquecer que os euros da Alemanha, da Holanda ou da Áustria não nascem em árvores nesses países ricos. Eles são pagos aos seus Estados por contribuintes como nós que podem legitimamente estar indisponíveis para suportar indisciplinas alheias.
A segunda via, que ainda vive nas intenções do Eurogrupo, é passar uma parte da factura para os privados que emprestaram dinheiro aos países. Isso tem também uma forte racionalidade. Até aqui, a factura tem sido suportada exclusivamente pelos cidadãos dos países em dificuldades, que são obrigados a pagar mais impostos, que perdem o emprego ou uma parte do salário ou de apoios sociais. Mas nenhum investidor desconhece que os mercados têm risco, o que pode significar que não se recebe integralmente aquilo que se investiu quando as coisas correm mal. A partilha do “buraco” com os financiadores privados (sobretudo bancos e fundos de investimento, na larga maioria europeus) faz, por isso, todo o sentido.
Mas a isto, os investidores reagem de forma igualmente racional, fazendo subir os juros (mais risco exige sempre mais retorno) ou recusando emprestar dinheiro a quem pode não pagá-lo de volta. E as agências de rating, seguindo o mesmo princípio, baixam as notas, sinalizando que o risco de emprestar a esses países é agora mais elevado.
E se esta fórmula está a ser preparada para a Grécia, também será muito provavelmente aplicada a Portugal, à Irlanda e a todos os que, no futuro, se vejam impossibilitados de pagar as dívidas. A Itália, talvez. A Espanha, quem sabe?
Não houvesse União Económica e Monetária e cada país estaria por si. Mas no euro estão coisas demasiado importantes em jogo para serem deixadas à velha racionalidade financeira.
Tudo indica que os países do euro terão mesmo que se responsabilizar mutuamente pelo pagamento das dívidas de todos para sossegar os mercados - leia-se, a Alemanha e os bem comportados têm que ser fiadores das dívidas dos outros. Se é com eurobonds, através de empréstimos do Banco Europeu de Investimento ou recorrendo a outros instrumentos mais criativos é uma questão de detalhe.
Mas a isto, os investidores reagem de forma igualmente racional, fazendo subir os juros (mais risco exige sempre mais retorno) ou recusando emprestar dinheiro a quem pode não pagá-lo de volta. E as agências de rating, seguindo o mesmo princípio, baixam as notas, sinalizando que o risco de emprestar a esses países é agora mais elevado.
E se esta fórmula está a ser preparada para a Grécia, também será muito provavelmente aplicada a Portugal, à Irlanda e a todos os que, no futuro, se vejam impossibilitados de pagar as dívidas. A Itália, talvez. A Espanha, quem sabe?
Não houvesse União Económica e Monetária e cada país estaria por si. Mas no euro estão coisas demasiado importantes em jogo para serem deixadas à velha racionalidade financeira.
Tudo indica que os países do euro terão mesmo que se responsabilizar mutuamente pelo pagamento das dívidas de todos para sossegar os mercados - leia-se, a Alemanha e os bem comportados têm que ser fiadores das dívidas dos outros. Se é com eurobonds, através de empréstimos do Banco Europeu de Investimento ou recorrendo a outros instrumentos mais criativos é uma questão de detalhe.
E porque não há, nem deve haver, almoços grátis, esta fórmula vai exigir que cada país dê garantias inequívocas e invioláveis de que passa a portar-se bem. Como? Não se sabe. Mas isso já não será uma questão de detalhe. Estamos, portanto, obrigados a tornar-nos mais alemães. Nos juros e na disciplina.
Jornalista e editor de Economia da RTP
Escreve à quinta-feira
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